sábado, 25 de dezembro de 2010
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domingo, 5 de dezembro de 2010
Adolfo Bioy Casares fala
1. Não gosto muito de literatura fantástica
Você dirá: “Que raro, ele não gosta de literatura fantástica.” Sim, não gosto muito. A minha imaginação funciona assim. Meu ideal seria escrever um romance sem nada fantástico, mas, até agora, não consegui.
2. Biorges
Bioy, a relação Bioy e Borges foi cristalizada pelo crítico Rodríguez Monegal com aquilo que ele denominou “Biorges”.
3. Pinocchio
Augusto Massi: O senhor, quando adolescente, menino, que livros o senhor leu que o marcaram e o levaram a essa opção? Ou foi uma opção madura, já da idade adulta?
Bioy Casares: Os livros que li, sobretudo a história de Pinocchio [As aventuras de Pinóquio, clássico infantil de Carli Collodi, pseudônimo do escritor italiano Carlo Lorenzine (1826-1890)], o boneco que falava e se comportava como um homem. Possivelmente, isso me encaminhou em direção às invenções fantásticas.
4. Fotógrafo
Jorge Schwartz: Bioy, mais uma pergunta. Eu acho que existe um Bioy Casares desconhecido para o público que é o Bioy Casares fotógrafo. Você poderia falar um pouco disso?
Bioy Casares: Sim, sempre gostei de fotografia. Quando comecei a fotografar, a fotografia me absorveu. Durante 10 anos, fotografava o dia todo muitas vezes. De noite, já não pensava mais no conto e, sim, na fotografia que iria tirar amanhã.
Jorge Schwartz: Em que época foi isso?
Bioy Casares: Eu creio que foi entre os anos 50 e 60. Meu passado é bastante confuso, não poderia delimitá-lo de modo claro, mas acho que fotografei bastante bem. Lamento não continuar fotografando, mas, não se pode fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo.
5. Literatura e cinema
Me espanta que haja muita relação entre a literatura argentina e o cinema. Em geral, não gosto muito do cinema argentino. Por outro lado, é verdade que gosto muito dos grandes filmes americanos. Mas, não diria que mais que dos grandes filmes italianos, dos grandes filmes ingleses e de muitos filmes, comoMacumba [Sexual, de 1981], que são tão bons quanto os filmes americanos. Não gosto é do cinema de vanguarda, do cinema de cinemateca. Gostaria que de algum texto meu fizessem um filme, que as pessoas fossem ver nos sábados e domingos com a família e que se divertissem muito. Mas, os filmes que não divertem ninguém são construção de pessoas muito egoístas, que só pensam em si, como são os filmes de cinemateca, que não me interessam nada.
6. Vanguardas
Jorge Schwartz: Bioy, você fala com certa resistência sobre vanguarda.
Bioy Casares: Sem nenhuma. Falo abertamente contra a vanguarda. Acho que foi uma catástrofe na história da cultura, da qual estamos nos recuperando um pouco. Essa modernidade é o que de mais antigo pode haver, mas antigo em um sentido péssimo. É algo que temos que superar.
Jorge Schwartz: Agora, veja, na sua extraordinária Antologia da literatura fantástica, que você fez com a Silvina e com o Borges, você coloca 2 textos do James Joyce, 2 fragmentos de Ulisses [de James Joyce, obra de 1922], 2 textos do Ramon Lacerna, um grande vanguardista, e do Macedónio Fernandez [(1874-1852)]. Quer dizer, a vanguarda está representada.
Bioy Casares: Creio que Joyce é um dos maiores escritores que existiram. Mas Ulisses é uma catástrofe na história da literatura [risos].
Rinaldo Gama: Em que sentido é uma catástrofe?
Bioy Casares: Porque acho que as pessoas começaram a escrever livros confusos e achavam que a obscuridade de Ulisses era um mérito, quando era um defeito. Eu diria que o gênio de Joyce se revela em frases, momentos, em cenas graciosas, maravilhosamente realizadas, e que ninguém mais poderia realizar. Mas, escrever um livro assim é dar um mau exemplo. E esse exemplo foi seguido por muita gente.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
]nota para mim e para mais ninguém, hoje, noite, aqui[
segunda-feira, 18 de maio de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Théophile de Viau (1590-1626): + 2 traduções
Cette femme a fait comme Troie:
De braves gens sans aucun fruit
Furent dix ans à cette proie,
Un cheval n'y fut qu'une nuit.
§
Esta mulher me lembra Troia:
Resiste a dez anos de açoite
Por bravos guerreiros sem dó, e a
Cavalo se abre numa noite.
§§§
Je naquis au monde tout nu,
Je ne sais combien je vivrai,
Si je n'ai rien quand je mourrai
Je n'aurai gagné ni perdu.
§
Nasci completamente nu,
Sem saber quanto vou viver,
Se nada tiver ao morrer,
Não hei de ficar no preju.
o final da versão francesa do primeiro epigrama tem uma sonoridade exemplar: fut q'une nuit. não respondi a assonância mas, em compensação, criei um jogo de ritmo q ñ havia no francês: os dois versos centrais têm um ritmo mais pesado e forte (acentos nas sílabas 2, 5 e 8), enquanto o último verso, q desmonta a resistência da cidade-mulher, tem um ritmo todo desmontado pelo acento na quarta sílaba. o eco do verbo doer em dó, e a e a ambiguidade do verbo abrir-se no último verso apenas seguem aquele tom gregorial q as traduções d ontem já mostravam. // já a tradução do segundo epigrama guarda toda sua graça na última palavra, um quase anagrama da francesa q ocupa seu posto: perdu-preju.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Théophile de Viau (1590-1626)
Tu dis que George est paresseux,
Ton discours est peu véritable,
Car il est toujours parmi ceux
Qui sont des premier à la table.
§
Se diz que Jorge é preguiçoso,
No que diz não há firmeza,
Pois ele foi sempre o que pôs o
Primeiro traseiro na mesa.
§§§
Un certain, sans grande raison,
Ecrit au dessus de sa porte:
Par cet endroit en nulle sorte
Le fou ne passe en ma maison.
Il faut donc, dis-je, que le maître
Entre chez lui par la fenêtre.
§
Um indivíduo sem noção
Escreve assim em sua porta:
“Por aqui, por minha mãe morta,
Louco não pisa esta mansão”.
Sendo assim, sem perda de tempo,
Pule a janela e dê o exemplo.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
máquina beleza

É meu peito navio,
São teus olhos o norte,
A quem segue o alvedrio,
Amor piloto forte;
Sendo as lágrimas mar, vento os suspiros,
A venda velas são, remos seus tiros.
lendo o Manuel Botelho de Oliveira (Música do Parnaso, 1705), achei seus Madrigais mais interessantes q a coisa toda. nesse, os tiros ecoam uma violenta experiência do cotidiano das cidades, q se mistura a uma errância subjetiva, labiríntica própria do diaadia. o seguinte tem a solução q adoro do arco-íris sintaticamente esfacelado. [máquina beleza é um sintagma involuntário, bonito, de um verso de Botelho: "Essa de ilustre máquina beleza".]
Se as sobrancelhas vejo,
Setas despedes contra o meu desejo;
Se do rosto os primores,
Em teu rosto se pintam várias cores;
Vejo, pois, para pena e para gosto
As sobrancelhas arco, íris o rosto.