sábado, 25 de dezembro de 2010

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Trecho inicial de Cantileno (2000), de Maria Gabriela Llansol


Eis aqui a rua e a voz estranha que me escreve.

Nas minhas frases, rua
é um campo magnético-vibrante, não passagem multímoda que, a cada momento, transforma o visível em menos evidente.

Eu escrevo esse lugar secreto de repulsa e de atracção, onde nada se cruza
tudo gira, tudo e nada são apenas libidos se experimentando.

É na grande cidade e nessa rua que procuro onde começa a voz dela a brotar corpo e libido, e nem sempre encontro onde, mas em sonhos minhas imagens já a viram muitas vezes jorrando, a borbulhar de emoção fria e firme,
com o fio da vida preso às asas

minhas imagens? Olhai como se lançam inadvertidamente da janela da frase,
_________ uma impulsão suave as leva; voam, sem medo de cair, rodopiam, em bandos ou sozinhas,
pombas? Sim, como pombas ou papagaios de papel, podeis ler,
e regressam às frases, sãs e salvas;
trazem-se escrita
aquela-que-vê-não-se-vê, e eu escrevo
sou sua prótese,
o se desse olhar.
O se? Sim, observações pertinentes e indeléveis que, passo a passo, a fazem crer que
rua e caminho
são meras coincidências,
só há caminho no vasto universo das minhas imagens.

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