segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ricardo Aleixo

Do diário de leitura, um poema de Modelos vivos (2010), de Ricardo Aleixo.

Vão

o nenhum peso
da mão do amor

se espalma na pele
da parte do corpo flor

entreaberta
e explode

dentro afora
até tocar o claro

o escuro vão da alma
o coração o corpo

todo e o que
ele pode


Guardo aqui a boa postagem de Ricardo Domeneck sobre Aleixo, no modo de usar & co. E o blog do poeta. Abaixo, trecho da performance Nem uma única linha só minha.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

luzescrita entrevista

Para seguir documentando a última postagem, encontrei este vídeo com uma qualidade horrível e uma jornalista pouco informada entrevistando o Walter Silveira sobre a exposição Luzescrita. Vale por algumas informações sobre o projeto dos poemas.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

fotografia = luzescrita


Exposição na Bahia reúne Arnaldo Antunes, Walter Silveira e Fernando Laszlo com a proposta de fazer poemas usando a luz como suporte das palavras. De março a fevereiro. O trabalho poético de Walter Silveira é tão bom e tão desconhecido! Assim como ainda é o de Ronaldo Azeredo, um dos poetas concretos que tem um trajeto muito singular, principalmente depois de sua aproximação com Alfredo Volpi. Ainda hoje sonho em ver o álbum Mein Kalli Graphycs, do Walter, que foi um pouquinho divulgado no 40 escritos, do Arnaldo. Ele é inencontrável mesmo em estantes de raridades, nos sebos. Esse poema incendiário da imagem tem tudo pra ser do Arnaldo Antunes, e não do Walter Silveira, principalmente pela recombinação das sílabas após a leitura horizontal: depois de fome de sede, lemos fode, mede.

Essa outra imagem de divulgação já sugere um poema do Walter Silveira pelo trabalho tipográfico de transformação do A em +, a jogar com a outra vogal que a acompanha na palavra, o I, formando os dois polos de uma pilha (a própria "caixa preta"): POESIA / FILHA DA PILHA. A pilha, ao que parece, (como a puta) energia, ou luz (luz é energia), pra tudo que é máquina, pra tudo que é poema. (Lembra de "máquina de comover", Le Corbusier via Cabral?) É, como um "poema conceitual".

Na sexta-feira assisti A lua vem da Ásia, em cartaz no CCBB-RJ desde o dia 6 de janeiro. Foi uma das melhores peças que já vi (eu que vi tão poucas), acho que pelo texto tão bom do Campos de Carvalho e pela atuação do Chico Diaz. Impressiona a dicção tão clara e expressiva do ator. São bonitas as pequenas passagens em que ele se insere no texto do Campos de Carvalho (ao mencionar sua idade ou o século de encenação da peça), um pouco levando à performance a peça. A segunda parte, vertiginosa, com muito texto falado, um cenário onírico, é muito bonita, é uma sequência muito forte, impressionante pela mistura de drama e humor. (Fico nesse comentário, mais para guardar aqui, em diário público, minha presença. Em palavras.)

Jornal Rascunho, Age de Carvalho

Neste mês, o jornal Rascunho traz uma entrevista com Ferreira Gullar, realizada pelo seu editor Rogério Pereira, e uma lúcida resenha (como sempre) de Marcos Pasche do livro Em alguma parte alguma (José Olympio, 2010). Há também uma resenha do Igor Fagundes, que gostei de ler ali. Uma boa surpresa foram os sete poemas novos de Age de Carvalho, um poeta que admiro, por muitos motivos. Não só pela imagem que guardo dos tão bons poetas paraenses e seu construtivismo filosófico (para usar uma imagem ainda capenga que teimo em preservar), com Mário Faustino, Max Martins, Age e Vicente Franz Cecim (entre outros ainda não lidos, como Sérgio Wax), mas também pelo jeito muito próprio, tenso e tipográfico, de o Age fazer os poemas. Fora muitos dos seus temas originais, como a série de cinco poemas em torno de uma trombose na perna, de Caveira 41 (Cosac, 7letras, 2003). Deixo aqui, sem direito, mas desejando divulgar, um dos novos.

ÚLTIMOS DIAS DE PAUPÉRIA

No chão do sonho
dormes na cozinha,
calça ruça-mostarda,
bolsa surrada de camurça
sob a nuca, voltada para Oeste,
onde faz semprenunca
lá fora,
de sábado a sábado -

é aqui,
agora, à boca dos fornos
onde
comes, cospes,
despertas ainda
sob a luma lugente
para o dia nenhum,
uma moeda de verdade contigo,
deitada,
a boca de lado.

Não acorda:
são teus últimos dias.
O que não quer
dizer nada -

o que
por si
já seria
o em-si do assunto

enquanto lavas
teu prato
e vês sentido
nisso.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

entrevista com Jorge de Sena

Em 12 de novembro passado, foi divulgada na Internet uma entrevista com Jorge de Sena inédita desde 1972. Ela consta no site da rádio portuguesa Antena 2. A entrevista é longa, com mais de uma hora de duração. Ao final, lê um de seus poemas. Clique aqui.

Jorge de Sena viveu no Brasil na década de 1960, quando compôs dois de seus mais importantes livros, Metamorfoses e Arte de Música. Ainda está por se pensar os seus lugares irônicos nas literaturas portuguesa e brasileira. Estrangeiro em língua portuguesa lá e cá.

domingo, 2 de janeiro de 2011

crença

Não poderemos nunca ter grande poesia sem acreditar que a poesia serve a grandes fins. Nossa crença na grandeza da poesia faz parte vital da sua própria grandeza e é uma porção implícita da crença dos outros nessa grandeza. Morrer é diferente.

*

Terminou meu papo, eu não tenho mais papo não. Eu sou outsider; quanto à moda, eu prefiro a Gisele Bündchen, eu acho ela muito mais gostosa; quanto à década de 70, esse fóssil, eu me prefiro um míssil.

(Dois trechos do Waly [Salomão] em "Contradiscurso: do cultivo de uma dicção da diferença" [2001].)

Guenadi Aigui: lançamento

Não me lembro se no início de 2010 ou em fins de 2009 eu escrevi pretensiosamente à editora Perspectiva perguntando a respeito de um anunciado livro de tradução de poemas de Guenadi Aigui por Boris Schnaiderman e não obtive resposta. Pelo menos até hoje, quando vejo o livro lançado no site da editora pela coleção Signos: Guenadi Aigui: Silêncio e clamor. É só isso: marcação para mim.